segunda-feira, 6 de agosto de 2012

E um lance é um lance

(Para as minhas filósofas da madrugs, Tary e Analu)


Nada como emendar as férias com a greve das federais para me encontrar num tal estado de nada para pensar e nada para fazer que meus neurônios, agora já descansados, alongados e quase flácidos pela falta de exercício, comecem a clamar por um período de sinapses frenéticas e noites sem dormir. O famigerado cromossomo da pobreza. Na falta de artigos para escrever, notícias para destrinchar e teorias sérias para elaborar, decidi aproveitar o vácuo no meu cérebro e o tédio intelectual para problematizar questões pertinentes presentes no cancioneiro nacional contemporâneo. Comecei a brincar disso através do Ask.Fm (quer me perguntar alguma coisa? Vai lá!) e devido ao (cof cof) sucesso de minhas abobrinhas imaginei que seria interessante criar uma seção no blog, que se chamará Gerador de Lero-Lero.

Para dar início a esse nova empreitada, dissertarei sobre um silogismo de extrema relevância filosófica e sentimental, que me foi proposto inicialmente pela - sempre ela - Analu:

"Traição é traição, romance é romance, amor é amor e um lance é um lance."

É mister dizer de pronto que o objetivo principal do autor do silogismo acima é colocar em esferas distintas os comportamentos e sentimentos que muitas vezes coexistem nos relacionamentos amorosos. Essa distinção visa elucidar ao leitor e/ou ouvinte que eles não podem existir em harmonia, uma vez que são, por natureza, mutuamente excludentes. 

Partindo desse princípio, não seria exagero concluir que o autor da citação acredita que o fracasso nos relacionamentos amorosos contemporâneos se deve ao fato de que homem e mulher (homem e homem, mulher e mulher, vale tudo) não sabem mais fazer essa diferenciação. Essa mistura de estações inevitavelmente acaba em contenda e corações partidos, única e exclusivamente porque a cultura pós-moderna do imediatismo tem impedido que os indivíduos vivam de forma plena as diferentes fases do relacionamento amoroso. Assim, como na imagem evocada pela expressão popular, a carroça acaba passando na frente dos bois, sendo a carroça o turbilhão de emoções e convenções de todo e qualquer relacionamento e os bois o homem e a mulher (homem e homem, mulher e mulher, vale tudo).

Após esse esclarecimento inicial, podemos avançar pela compreensão de que, assim sendo, traição e romance não fazem parte da mesma esfera, assim como distingue-se do amor. Inferimos portanto que onde há traição não há romance, muito menos amor. Essas duas suposições iniciais já fazem parte do consciente coletivo social há um bom tempo, desde quando o amor romântico predominou dentre as outras formas de relacionamento e deixou de ser de bom tom que os indivíduos sassaricassem em outras camas que não a de seus/suas bem-amado/as. Apesar de não ser uma prática socialmente aceita, não se pode afirmar que a coexistência da traição com o romance e o amor inexiste; pelo contrário, o que vai contra a corrente de pensamento mais libertária e inovadora cada vez mais adotada pelos indivíduos, principalmente aqueles que fazem parte da chamada geração-Y, que defende formas de relacionamento mais diáfanas e menos liberticidas, diferentes da rigidez monogâmica. Segundo o célebre autor desconhecido, não existe amor onde há traição.

Uma ousadia de seu pensamento que vale ser notada é que, tendo em vista os relacionamentos modernos caracterizados no parágrafo acima, os quais designaremos aqui como lances, embora não se possa afirmar que há neles amor, ou então que não seja possível classificá-los como vertentes do romance, seus ares de brevidade e descompromisso os redimem do jugo moral da traição. Assim, uma vez que a forma de relação observada entre um homem e uma mulher (homem e homem, mulher e mulher, vale tudo) puder ser chamada e reconhecida como lance, é possível que ambos os indivíduos sassariquem por aí a seu bel-prazer. Este é, por sua vez, o traço mais atrevido e moderno do pensamento o qual analisamos aqui e também uma crítica moral àqueles envolvidos em lances por livre e espontânea vontade que teimam em pedir fidelidade aos seus companheiros ou chorar nos cantos pelas estripulias amorosas do outro. Troca de pares em lances não configura traição.

Tendo como objetivo trazer o pensamento analisado neste artigo para o cotidiano da juventude pós-moderna, esta que vos escreve dissertará acerca do relacionamento de Tom Hansen e Summer Finn para explicitar os conceitos propostos no silogismo. Tom é apaixonado por Summer, que com ele quer apenas um lance. Apesar do belíssimo filme de Marc Webber não dar a entender em momento algum que Summer mantinha algum outro par que não Tom, ela é enfática ao afirmar que não acredita no amor e que não quer ser sua namorada. No entanto, a bela de olhos azuis se contradiz em seu discurso ao viver com Tom momentos que não podem configurar uma situação diferente de um romance, vide as brincadeiras em lojas de móveis, troca de confidências íntimas e profundas e sua súbita aparição na casa de Tom no meio da madrugada chuvosa, apenas para lhe pedir desculpas por seu comportamento. O desencontro e desconforto de ambos é um perfeito exemplo de má compreensão dos ensinamentos propostos nos versos aqui analisados, pois Summer e Tom acabam por unir em uma situação comportamentos e sentimentos díspares e mutuamente excludentes. Assim sendo, a raiva de Tom é totalmente compreensível, mas não se pode dizer que ele é uma vítima total, pois quis compor um lance com Summer mesmo que já a amasse. Relembrando: amor é amor e um lance é um lance.

Romance é romance
Amor é amor

E um lance é um lance =(
Conclusão:


 O único fio solto do pensamento estudado que necessita de uma problematização diferenciada e especial que não cabe a mim tecer é o da impossibilidade de coexistência do amor e do romance. Me faltam argumentos sólidos para sustentar o posicionamento do autor, uma vez que ele é contraditório com relação ao resto de sua proposta e ao que é observado empiricamente. Deixarei a cargo dos leitores uma possível construção desse conceito, pois discordo veementemente do posicionamento e não é porque me faltam obrigações reais que gastarei tutano a destrinchar esse tipo ideia.

Gostaram? Aguardo réplicas e complementações, além de sugestões para discussões futuras nos comentários. =)

8 comentários:

  1. HAHAHAHHAHAHAHAHAHAAHHAHAHAAHAHAHHAAHAHAHAHA! Finalmente você fez esse post <3

    Amei a sua teoria, como já havia amado e morrido de rir com ela no Ask.

    Eu super assino embaixo!

    Beijos

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  2. HAHAHAHAHAHAHAHAHA, Anna, você é um presente na minha vida. Você arrasa demais pra ser verdade. Amei. Amei. E amei mais ainda você ter relacionado com 500 days of Summer, que é um filme que eu amo de paixão. E eu absolvo a Summer, HAHAHA.
    Vou colocar no mural DJÁ. E a próxima, ah, faz a do lelelê! <3

    Ah, garota. Se eu te pegar, você vai ver. 12 dias.

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  3. Me diverti horrores com a sua teoria, Annoca! Também tenho as minhas aqui guardadas... Um dia deixo a preguiça de lado e posto sobre uma delas. Mas, deixando a brincedeira de lado, o que você escreveu é bem verdade: tudo seria mais fácil se a gente aprendesse a separar as coisas... e pobre Tom! :(
    Beijos

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  4. Muito bom! hahahaha
    Parece que você estava tão inspirada em fazer uso de toda sua prolixidade que até na introdução você foi mais formal que o comum. Acho que nem dá pra chamar de "verborragia" o texto porque, afinal, diferente do Gerador de Lero-Lero, seu texto até que tem algum sentido. :P
    É engraçado, no Ensino Médio eu tentava ser mais objetivo sempre (apesar de muitas vezes não resistir ao impulso de querer 'mostrar tudo o que eu sabia sobre a matéria', em busca de uns pontinhos a mais hehe). Mas daí, à medida que você vai avançando na faculdade, cada vez mais é obrigado a escrever muito e, fatalmente, acaba usando frases que só estão ali para florear. Bom, talvez nem tanto no seu caso, já que de jornalistas geralmente se cobra concisão... Sorte que eu realmente gosto de escrever (mas às vezes até meus neurônios cansam, viu... rs).

    Sua próxima missão deveria ser elucidar para nós o que diabos significa tchu-tcha-tchu-tchu-tcha, tchê tcherere tchê tchê, lê-lê-lê, bará bará bará berê berê berê, tãe tãe tãe tãe, tchubirabirom etc... (desculpe por tantas obscenidades na sua caixa de comentários haha)

    Um beijo

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  5. Sabe, faz uns 4 meses que eu não leio nada em linguagem formal então boiei na metade do texto e acho que não entendi nada, mas de qualquer forma, senti falta da explicação do porque um pente é um pente, poxa vida. Enfim, num dia que eu tiver neuronios não derretidos releio e tento entender mais... to burra :( Triste. São Marx que me perdoe, mas é. hahaha
    Abraços <3

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  6. até pensei eu dar uma de "comissão científica" e fazer o parecer do seu artigo, mas quero aproveitar as férias e a greve das federais pra ser burra por mais um tempinho.

    mas eu amei, amei, hahaha. de verdade! quando eu descobri o gerador de lero-lero (engraçado foi que meu pai que me apresentou), eu achei sensacional e sempre quis usá-lo em algum lugar. mas você foi mais criativa, você desenvolveu o seu próprio lero-lero, e, na boa, achei sensacional!!

    fiquei pensando no "pente". mas deve ser alguma coisa tipo djavan "nananá" "birabã" "lalaparapari", ou qualquer desses barulhinhos que ele sempre faz e que nunca significam nada! ^^

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  7. esse post me lembrou o twitter música de monóculo - @MusicaMonoculo - que é ótimo.

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