quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Como sobreviver a dias difíceis

Para ler ouvindo:


Eu sei que eu pareço nunca ter paciência com as coisas, que meus amigos dizem que minha característica mais marcante é revirar os olhos pra tudo que os outros dizem, que eu ando de cara fechada assustando inocentes por aí, que eu comemoro as chances que eu tenho de estar nos lugares sem ter que lidar com gente e digo sempre não, não não. Mas, querido leitor, não me leve a mal: no fundo eu só quero mesmo manter a minha fama de má. 

A verdade verdadeira é que eu sou uma flor. Gótica suave, no máximo, mas com um bom coração. Eu bati palmas pro sol no Arpoador e cantei bossa-nova pelas ruas do Rio de Janeiro, eu converso com animais e faço voz de bebê, eu me emociono assistindo Cosmos porque acho a natureza perfeita demais e, sobretudo, eu me sinto pessoalmente atingida por manifestações de ódio que eu vejo por aí. 

E, nos últimos dias, o que tem sobrado por aí é ódio gratuito, por todos os lados. 

Tenho sentido uma necessidade bizarra de enfrentar o mundo, tanto online como offline, com aquela roupa que os personagens de Hurt Locker usam para desarmar bombas. Desde que a disputa pelo segundo turno das eleições as pessoas andam desesperadas para defender seus candidatos, desesperadas ao ponto da inconsequência e inconsciência, e fico pensando se isso é mesmo sobre política, sobre um projeto de país, ou se, na verdade, é sobre estar certo acima de todas as coisas, ou ainda sobre procurar subterfúgios para destilar raiva, ódio e ressentimentos que sempre estiveram ali e só precisavam de uma desculpa mais ~nobre~ para serem extravasados. 

O calor e a chegada do horário de verão também não ajudam muito. Sempre fui contra ficar falando o tempo inteiro sobre o tempo, mas com essa bolha de calor da última semana é meio difícil ter outro assunto. Quando o professor decide que não existe a menor condição de ficar dentro da sala de aula por causa da temperatura, é meio difícil ignorar. Quando suas coxas grudam, é meio difícil abstrair. E eu continuo firme no meu posicionamento de que, quanto mais falamos sobre, pior fica, mas não tem sido fácil. Então a gente reclama do calor, e o calor fica pior ainda.

Quanto ao horário de verão, é impossível ser feliz sem dormir bem, e eu ainda lembro da época em que estudava de manhã e demorava umas duas semanas até me acostumar e voltar pros eixos. Eram duas semanas miseráveis, de desespero puro e mau humor recorde. Então, sim, eu entendo quem sofre, eu entendo quem se queixa, mas acho que é preciso todo mundo entender também que, assim como com relação ao calor, não tem nada que a gente pode fazer. 

São tempos difíceis, querido leitor, para todos nós e não só pros sonhadores. Citei três circunstâncias gerais, mas tem a falta d'água, tem o ebola, tem a barra pesadíssima que está sendo esse ano pra todo mundo, e tem as circunstâncias infelizes do cotidiano de todos nós. A espinha na cara, a chefe inoperante, o prazo apertado, o cabelo caindo, a cabeça se perdendo por aí, o trânsito e ai meu Deus as lojas já estão com decoração natalina. Não está fácil. 

Por isso, resolvi inaugurar essa semana de crônicas (sim! outra! eu não desisto!) com uma receita particular para sobreviver a essa morte horrível que às vezes é viver. Ninguém me ensinou e eu não li em lugar nenhum, foi meu instinto agindo num momento de desespero. No caso, era uma aula de direção que, pra variar, eu saí tremendo, me recuperando de uma caimbra, e fazendo muita força pra não chorar. Quando vi, eu estava na porta da Cacau Show. Quando eu vi, eu tinha enfiado uma trufa inteira na boca. Quando eu vi, meu dia estava melhor.

Parece estranho, parece desesperado, parece até pouco higiênico e talvez até seja mesmo tudo isso, mas uma trufa inteira na boca é uma solução para os seus problemas. Primeiro porque o excesso de chocolate na boca tira sua atenção do resto dos problemas. A prioridade é engolir sem babar e manter o resto da dignidade. Você não pode falar, não pode ousar reclamar, e precisa se concentrar em se livrar daquilo. Então, à medida que você mastiga, à medida que sua mandíbula trabalha, o chocolate começa a agir no seu organismo e todas as suas propriedades químicas maravilhosas batem com força potencializada. Quando você termina, o mundo, querido leitor, é um lugar mais doce pra se viver. 

Pelo menos enquanto o gosto do chocolate durar - mas até ele acabar, existe tempo o suficiente pra que você get your shit together e consiga seguir em frente.

Então hoje, nessa madrugada, guarde no coração o conselho que essa blogueira que vos escreve compartilha:

Antes de xingar, gritar, brigar e destilar o ódio gratuito;
Antes de reclamar do calor;
Antes de descontar nos outros a frustração pelo horário de verão;
Antes de odiar o mundo por um dia ou pessoa ruim;
Antes de deixar um idiota estragar seu dia;

Não apenas coma chocolate, como recomenda o poeta, mas coma uma trufa inteira de uma vez, porque se não há mais metafísica no mundo senão chocolates, o poder de uma trufa é tamanho que não deixa espaço para a metafísica alguma. E às vezes isso é tudo que a gente precisa. 

Isso e um elefante feliz brincando na lama:


5 comentários:

  1. Achei jogo baixo esse elefantinho no fim do post. Você me viciou em cute emergencies e eu fico vendo fotos de bichinhos fazendo traquinagens toda hora <3. Mudando dos bichinhos pra treva, os maias preveram o fim do mundo em 2012 porque deviam saber que 2014 ia ser sinônimo do chumbo grosso. Nem Freud explica as maluquices que esse ano ta fazendo com a mente humana e ta sobrando chorume e ansiedade pra tudo quanto é lado. Apenas socorro! E sim, jamais desistiremos de nossas semanas de crônica! ESCONDENDO O CORPO CARD, melhor card, melhor A Gente. Te amo.

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  2. Que elefantinho fofooo!
    Esse ano está sendo difícil de segurar, viu? E pelo jeito não é só pra mim.
    Eu também não gosto de reclamar muito do tempo, mas tem horas que é quase inevitável, ainda mais com o calor absurdo que resolveu aparecer por aqui, mas tem gente que passa dos limites das reclamações haha.
    Beijo
    http://www.deborabp.wordpress.com

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  3. Pra segurar esse forninho que é a vida, nada ajuda mais do que filhotes. Tem dias na faculdade que eu quero morrer, e o que me deixa feliz é sentar no sol e um vira-latinha aparecer pra dormir por perto - mesmo que ele na verdade esteja atrás de comida. Mas me deixa muito triste que eu não saiba onde ir pra ver elefantinhos na vida real.
    Não sei o que houve com 2014, mas até agora não vi ninguém bem feliz com ele. Haja chocolate. E, é claro, os filhotinhos fofos.

    Beijo!
    PS: decoração de Natal é outra coisa que me deixa feliz hahaha Inclusive, queria saber onde estão essas lojas que já estão decoradas pra me enfiar lá. Melhor ainda se tiver tocando musiquinha natalina brega no fundo. (Desculpa, mundo)

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  4. Reclamar do tempo é uma forma de descontar a insatisfação dos nossos dias. 2014 sem dúvidas um ano de morte, que fase essa em nos encontramos ein?! E ta sobrando é pra todo mundo, sem contar o bônus das eleições que estão rendendo certas cenas desagradáveis. Mas a gente segue em frente, com chocolate ou não. Ou com fotos fofas como essa do elefantinho.
    Bj!

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  5. Eu precisava desse post.
    E agora preciso de uma trufa inteira na boca.

    (até compartilhei a vontade no meu último post)

    Beijos!

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