Meu primeiro fim de semestre acadêmico pode ser descrito como intenso e inesquecível. Nessas duas últimas semanas, vivi uma montanha russa de emoções fortes, oscilando entre níveis épicos de desespero e uma euforia tão enorme e sincera que Renato Russo diria que parece cocaína, mas é só um trabalho dando ora muito certo, ora muito errado. Esses picos discrepantes de emoção se devem também ao fato de que tudo que fiz nessas semanas não poderia se encaixar num meio termo: ou foi terrível ou foi fantástico.
Na manhã de terça eu falava com meu pai no celular enquanto corria, literalmente, no campus da universidade para chegar a tempo pra uma entrevista. Quando ele me perguntou a razão de toda aquela ofegância, contei do meu atraso e de seus motivos: havia ficado até o último minuto revisando um trabalho que quase foi para as mãos da professora todo errado e sem edição, justo o trabalho que havia me atormentado por quase um mês e assombrado meus sonhos desde que comecei a fazê-lo. Juntou esse estresse, a perspectiva do atraso, a total ignorância do que conseguiria fazer naquele dia e o cansaço acumulado e eu quis sentar ali no meio da rua, chorar e pedir encarecidamente que me tirassem dali. Mais tarde, naquele mesmo dia, eu estava aos pulos e gritos num laboratório da escola, abraçando as pessoas e a ponto de rolar no chão de alegria. Estabilidade emocional, não trabalhamos.
Acontece que, em meio a todos os trabalhos cansativos e complicados, tive que produzir um programa de TV. Tenho uma disciplina chamada Educação e Comunicação que estuda a junção das duas áreas, e o trabalho final consistia em apresentarmos um meio alternativo que pudesse ser incorporado pela prática educativa, e meu grupo ficou com a televisão. O professor, criativo e sem noção, disse que queria um programa de TV todo metalinguístico sobre programas de TV. Aquele pequeno detalhe de que estamos no primeiro período e o telejornalismo aparece só no quinto ele não se lembrou. A expectativa da greve que nunca veio também fez com que não nos lembrássemos de que tudo que envolve filmagem e edição dá uma mão de obra louca, e nos vimos com um enorme trabalho e um prazo apertado.
No total, fizemos tudo em quatro dias, sendo um fim de semana para estruturar o roteiro e estudar o embasamento teórico, segunda e terça filmando e editando. Até agora não consigo acreditar que conseguimos, tendo em vista de que na terça de manhã cheguei na faculdade sem saber o que aquilo ia virar e saí com o programa pronto no meu pen-drive. Foi um milagre, literalmente. Na madrugada de segunda tudo estava dando absurdamente errado e eu e meu grupo pirávamos e nos descabelávamos em busca de soluções, até que me joguei no chão do quarto, de cansaço e desespero, e pedi misericórdia. Gente, quem nunca experimentou isso não sabe o que é a sensação de corda no pescoço. E sim, a partir do meu clamor alucinado as coisas começaram a fluir. A sincronia dos áudios e dos vídeos ficou quase perfeita. O que antes era um monte de vídeos e ideias se tornou o Repórter UFU.
Sobre essa experiência, o que tenho a declarar é que mexer com audiovisual cansa muito. Eu, que nem apareço no vídeo nem nada, cheguei em casa todos os dias com uma sensação de que havia sido espancada. Foi muito sobe e desce nas ruas e na universidade carregando equipamento, papelada, blusa de frio, notebook, etc. Foram muitos takes até que se conseguisse um "boa tarde" decente. Foram muitos planos A dando errado e também muitos planos B surgindo do nada e se provando melhores que a proposta original. O mais legal é que fazia tempo que não fazia um trabalho de grupo que realmente tivesse cara de grupo. Costumo odiar e sofrer horrores com essas organizações, e sempre acabo com a sensação de que só eu e poucas pessoas se importam realmente com aquilo, mas dessa vez senti que estávamos todos segurando a barra uns dos outros, cada um fazendo sua parte para sair um resultado legal e também para que o processo de produção não fosse um martírio, e sim uma grande e ambiciosa brincadeira. A gente não teria dado conta também sem a ajuda da Chris Pitanga e do Fabiano Goulart, ela nossa professora e ele jornalista da Tv Universitária, ambos sem obrigação alguma de nos ajudar, mas que gastaram tempo e paciência com calourinhos que não sabiam operar a câmera e posicionar os braços diante dela.
Aos olhos de quem conhece técnicas e tem experiência na área, nosso programa tem cara de amador mesmo, mas não consigo não me orgulhar dele. Acho que foi uma conquista bacana, tanto por termos feito quase num piscar de olhos - o maior e mais tumultuado da minha vida, mas ainda um piscar de olhos -, sem saber absolutamente nada e com recursos limitados. Já assisti o produto final tantas vezes que até decorei as falas, e estou sentindo um orgulho enorme da gente.